Quando começamos a aprender linguagens de programação, vamos atrás das linguagens mais badaladas, que oferecem mais oportunidades de emprego/estágio. Ignoramos totalmente linguagens mais antigas, reclamamos da grade de matérias da faculdade que tentam nos ensinar essas linguagens chatas.
A moda atual é estudar Python, TypeScript, React. Todos só querem aprender essas linguagens / frameworks principais. Python é a atual queridinha da molecada, graças a seus talentos na área de ciência de dados, área que está pagando muito bem. Nada contra, mas deixa eu dar uma dica de quem já viu muitas linguagens se tornarem queridinhas e afundarem no esquecimento em poucos anos depois: não ignore outras linguagens, sejam elas antigas ou pouco populares.
Todos dizem que a história se repete, que é importante conhecermos a história para não repetimos os erros do passado, certo? (o Brasil é um perfeito exemplo, não é mesmo?) Então vamos contar algumas histórias de linguagens super populares que acabaram totalmente esquecidas.
- Clipper - final dos anos 80, primeira metade dos anos 90, época do sistema operacional DOS, quando o Windows era apenas uma interface gráfica não tão popular, o Clipper evoluiu em cima da popularidade do dBase (uma espécie de banco de dados sem transações porém eficiente o suficiente para se tornar popular na época) e dominou o cenário por longos anos. A maioria dos sistemas de empresas, lojinhas e outros negócios tinham um arquivo EXE gerado pelo compilador da linguagem, com uma penca de arquivos DBF agindo como bancos de dados. A linguagem acabou se perdendo com a popularização maciça do Windows e a pá de cal definitiva foi o bug do ano 2000, que atingiu em cheio os sistemas feitos na linguagem (que tratavam a data apenas com dois dígitos para o ano).
- Visual Basic - nos anos 90 ninguém ousava estudar a linguagem ultrapassada e feita para iniciantes Basic, mas ela acabou sendo a base do produto Visual Basic, que se tornou muito popular no começo do Windows. Aquele arquivo VBRUN300.DLL se tornou onipresente no diretório C:\WINDOWS de quase todos os computadores. Quem conhecia Basic na época levou uma vantagem sobre outros que esnobaram a linguagem. Mas o produto evoluiu mal, se tornou problemático e complexo e acabou afundando - mesmo que tenha ganhado uma sobrevida na Web com o VBScript do ASP.
- Delphi - quem nunca matou uma aula na faculdade por achar o Pascal um saco? Bastava passar na matéria para esquecer completamente essa linguagem "ultrapassada" e concentrar nas mais modernas. Mas na segunda metade dos anos 90, um produto acabou ganhando popularidade usando exatamente essa linguagem que todo mundo queria ignorar. Repaginado como ObjectPascal, passou a ser a preferência dos programadores da época. Novamente, algumas faltas de compatibilidade e mudanças de paradigma acabaram matando a popularidade desta ferramenta que ainda atormenta muitos programadores que precisam manter sistemas legados desenvolvidos nesta linguagem...
- Applets Java - estava eu em meu último período de faculdade e um professor falava insistentemente e jogava todo o futuro da programação em cima dos applets Java, uma novidade da época que prometia revolucionar a Web. Os applets acabaram famosos sim, mas por suas inúmeras falhas de segurança, que acabaram deixando a plataforma Java com a fama de ser lenta e insegura. Felizmente, a plataforma soube fazer a mudança para o mundo corporativo e até hoje compete forte nesse segmento. Já os tais applets caíram em desgraça e estão sendo removidos de vez da linguagem. Quem diria...
- Ruby - pra encerrar essas histórias, que tal a linguagem Ruby, que subiu muito em popularidade na segunda metade dos anos 2000, e o framework Ruby On Rails se tornou um xodó dos novos programadores da época. Alguém ainda vê desejo nos jovens de aprender esse conjunto?
Peraí, estou desanimando todos a aprender as queridinhas atuais? N-Ã-O!! Claro que as linguagens e frameworks mais populares atualmente precisam ser aprendidos, a maiorias das oportunidades de emprego/estágio exigirão essas pérolas.
O que estou dizendo então? A ideia toda aqui é para não ignorar o restante. Manter os olhos abertos às novidades. E não ignore os dinossauros. Os ciclos na TI muitas vezes trazem à tona tecnologias que todos davam como mortas e que voltam a ter importância.
Veja o exemplo do Javascript. Em certo ponto na evolução do desenvolvimento Web, ele foi dado como morto e como um fardo de manutenção para sites antigos que usavam a linguagem para validações enfadonhas. Ressurgiu com tal força que hoje é um queridinho que voltou a dominar a programação Web com os frameworks Single Page Application. Nada mal para um senhor criado lá atrás em 1995 para o então recém lançado navegador Netscape!
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